Preparações enzimáticas estão entre os suplementos alimentares mais uteis para melhorar a saúde humana, incluindo a saúde do trato respiratório, porém são muito subutilizadas. Uma das enzimas mais úteis é a  serrapeptase. 

Durante as décadas de 80 e 90, pesquisas significativas conduzidas na Europa e Japão indicaram que a serrapeptase pode ser um dos suplementos alimentares enzimáticos mais eficientes para promover a saúde respiratória - mais especificamente aliviando a congestão nasal e dos seios da face, dor de garganta e inflamação nas vias aéreas.1 O Dr. Hans Nieper, um conhecido profissional da medicina alternativa e ex- presidente da Sociedade Alemã de Oncologia, foi conhecido por seu uso extensivo de enzimas proteolíticas e apreciava o valor da serrapeptase acima de todas as outras. Tanto que o Dr. Nieper se referia à serrapeptase como "Enzima Milagrosa".2 

‌‌‌‌O Que É Uma Enzima? 

Enzimas são moléculas que aceleram reações químicas - elas constroem novas moléculas ou quebram as ligações que unem moléculas para separá-las em unidades menores. 

Os suplementos alimentares enzimáticos frequentemente contêm enzimas digestivas que quebram proteínas, gorduras, carboidratos e outros componentes alimentares em unidades menores que podem ser absorvidas. Tomadas entre as refeições ou de estômago vazio, estas enzimas digestivas (especialmente as proteases ou enzimas proteolíticas) exercem efeitos sistêmicos fora do trato digestivo.

‌‌O Que é a Serrapeptase?

serrapeptase é uma enzima produzida a partir de uma bactéria benéfica, a Serratia marcescens, que reside no intestino do bicho-da-seda. O bicho-da-seda faz bom uso dos poderosos efeitos desta enzima para quebrar seu casulo e se libertar na forma de mariposa adulta transformada. 

O casulo que o bicho-da-seda constrói é composto de seda, um dos tecidos mais luxuosos, e também um dos materiais naturais mais fortes e duráveis. Mas do que a seda é feita? Proteínas especiais são secretadas e entrelaçadas pelo bicho-da-seda. A seda é composta de uma proteína insolúvel chamada fibroína e estruturada por uma camada de outra proteína chamada sericina, que parece uma cola. É uma proteína muito forte, resistente e resiliente, porém a enzima serrapeptase é capaz de quebrá-la facilmente. É realmente um milagre.

A serrapeptase disponível comercialmente é produzida a partir de culturas de Serratia marcescens. A serrapeptase também é conhecida como serratiopeptidase, serralisina, serratiapeptase, peptidase de Serratia, serratiopeptidase, ou serrapeptidase.

‌‌‌‌Como a Serrapeptase Funciona?

A serrapeptase e outras enzimas proteolíticas quebram proteínas essencialmente adicionando água ou hidrolisando as ligações entre  aminoácidos específicos, que são os blocos de construção das proteínas. Hoje em dia é bem documentado que enzimas proteolíticas administradas por via oral, incluindo serrapeptase,3 são absorvidas intactas na corrente sanguínea, exercendo efeitos sistêmicos. Na verdade, já foi demonstrado que a serrapeptase é entregue preferencialmente a tecidos que foram danificados ou estão sob estresse.4

‌‌‌‌Quais São os Benefícios da Serrapeptase Para a Saúde?

Serrapeptase tem sido usada na Europa e no Japão por cerca de 50 anos, com benefícios documentados no apoio à resposta do corpo a lesões e para a saúde do sistema imune, vasos sanguíneos e trato respiratório.. 

Já foi demonstrado que a serrapeptase é capaz de melhorar a circulação e reduzir o inchaço ao quebrar a fibrina, além de inibir a produção de moléculas que atraem células inflamatórias para a região da lesão.5 Reduzir o inchaço ajuda com a dor. A serrapeptase também inibe a formação de compostos indutores de dor chamados de cininas. Estas ações podem ajudar na recuperação de lesões esportivas, trauma, estresse repetitivo (como na síndrome do túnel do carpo) e procedimentos cirúrgicos. 

Um estudo demonstrou que a serrapeptase pode ajudar a melhorar a resposta a lesões e traumas.6 Este efeito tem sido documentado em diversos modelos experimentais e estudos clínicos.7-10 Por exemplo, já foi demonstrado que a serrapeptase é capaz de melhorar o funcionamento e mobilidade das articulações em pacientes com dores nos joelhos.7 Também já foi demonstrado que ela promove a recuperação após procedimentos odontológicos e cirúrgicos, ao reduzir o inchaço e hematomas, acelerando o tempo de recuperação. Mulheres sofrendo com sintomas de seios fibrocísticos como dor, inchaço, e sensibilidade também se beneficiaram da serrapeptase.11

‌‌‌‌Serrapeptase, Saúde do Trato Respiratório Superior e Imunidade

Quando falamos da saúde do trato respiratório, a barreira de muco é a primeira linha de defesa contra infecções. Proteases como a  serrapeptase, mucolase, e bromelaína diminuem a espessura do muco enquanto aumentam a sua produção, além de aumentar drasticamente a o transporte do muco através do trato respiratório, para que seja engolido ou eliminado do corpo. Além de melhorar os efeitos mecânicos do muco, as proteases podem permitir fatores de proteção especiais nesse muco, para neutralizar de forma mais eficiente organismos invasores. Alguns dos fatores de proteção liberados no muco são IgA secretório, óxido nítrico, lactoferrina, e diversos inibidores de protease derivados de glóbulos brancos que bloqueiam vírus.

Já foi demonstrado também que a serrapeptase melhora a estrutura e função de secreção de muco. Quando a serrapeptase é fornecida a pacientes com muco e espesso e pouco funcional, já foi demonstrado que ela reduz a viscosidade ( espessura e aderência), mas não a elasticidade (capacidade de extensão) do muco do trato respiratório. Melhorar a proporção entre viscosidade e elasticidade é um determinante importante da capacidade do muco em manter as vias aéreas livres de materiais particulados e micróbios.12-14 

Os efeitos de modificação do muco apresentados pela serrapeptase são importantes a qualquer momento em que o muco esteja mais espesso ou excessivamente aderente. Ao diminuir a viscosidade, a serrapeptase leva a menos congestão por muco, reduzindo os sintomas de congestão e também a possibilidade de uma infecção secundária por bactérias. O muco espesso ou excessivamente aderente é favorável para o crescimento de bactérias que causam doenças. 

A serrapeptase também exerce efeitos importantes no muco e revestimento gastrointestinal. Em particular, a serrapeptase exerce atividade contra biofilmes - um agrupamento compacto de bactérias que adere ao revestimento do intestino delgado com uma matriz viscosa e pegajosa. A serrapeptase é capaz de degradar esta matriz de biofilme, bem como agir como um obstáculo para a aderência das bactérias ao revestimento intestinal15 

‌‌‌‌Recomendações de Dosagem

A dosagem de serrapeptase, assim como muitas outras enzimas, não é baseada no peso (quantidade em mg), mas na atividade enzimática na forma de unidades de serrapeptase ou SPU. Para a maioria das aplicações, a dosagem é de 40000 a 100000 unidades, até três vezes ao dia. A faixa de dosagem é baseada no tamanho da pessoa, bem como no nível de reforço necessário. Para melhores resultados, a serrapeptase deve ser tomada de estômago vazio. Em relação à aceleração da recuperação após cirurgias, o protocolo geral tem sido iniciar a serrapeptase um dia antes da cirurgia, uma vez na noite após a cirurgia, e então até 3 vezes ao dia por 5 dias após a cirurgia. Porém, como neste momento existem estudos insuficientes sobre avaliação dos efeitos adversos ou interações, minha recomendação é que a serrapeptase seja usada somente após a cirurgia. 

‌‌‌‌Efeitos Colaterais, Segurança e Interações Medicamentosas

Em relação aos efeitos colaterais e segurança, a serrapeptase apresenta um perfil de segurança excelente e não produz efeitos colaterais significativos. Já que a serrapeptase pode diminuir a coagulação sanguínea, não deve ser usada com medicamentos que também afetem as plaquetas ou formação de coágulos como o clopidogrel (Plavix), heparina, varfarina (Coumadin), entre outros.

Referências:

  1. Bhagat S, Agarwal M, Roy V. Serratiopeptidase: a systematic review of the existing evidence. Int J Surg. 2013;11(3):209-217. 
  2. Hans A. Nieper, G.S. Eagle-Oden, and Arthur D. Alexander. The Curious Man: The Life and Works of Dr. Hans Nieper. Author House, 2010. 
  3. Moriya N, M Nakata, M Nakamura, et al. Intestinal Absorption of Serrapeptase (TSP) in Rats Biotechnol Appl Biochem 1994 Aug;20(1):101-8. 
  4. Moriya N, Shoichi A, Yoko H, et al. Intestinal absorption of serrapeptase and its distribution to the inflammation sites. Japan Pharmacol Therapy 2003; 31:659-666
  5. Kakinuma A, Moriya N, Kawahara K, Sugino H. Repression of fibrinolysis in scalded rats by administration of Serratia protease. Biochem Pharmacol. 1982;31(18):2861-2866. 
  6. Tiwari M. The role of serratiopeptidase in the resolution of inflammation. Asian J Pharm Sci. 2017;12(3):209-215. 
  7. Klein G, Kullich W. Short-term treatment of painful osteoarthritis of the knee with oral enzymes. A randomized, double-blind study versus diclofenac. Clin Drug Invest 2000; 19:15-23
  8. Sivaramakrishnan G, Sridharan K. Role of Serratiopeptidase After Surgical Removal of Impacted Molar: A Systematic Review and Meta-analysis. J Maxillofac Oral Surg. 2018 Jun;17(2):122-128.  
  9. Esch PM, Gerngross H, Fabian A. Reduction of postoperative swelling. Objective measurement of swelling of the upper ankle joint in treatment with serrapeptase-a prospective study Fortschr Med 1989; 107:67-68
  10. Malshe PC. A preliminary trial of serratiopeptidase in patients with carpal tunnel Syndrome. J Assoc Physicians India. 2000;48(11):1130. 
  11. Kee WH, Tan SL, Lee V, Salmon YM. The treatment of breast engorgement with Serrapeptase (Danzen); a randomized double-blind controlled trial. Singapore Med J 1989; 30:48-54. 
  12. Majima Y, Inagaki M, Hirata K, et al. The effect of an orally administered proteolytic enzyme on the elasticity and viscosity of nasal mucus. Arch Otorhinolaryngol 1988;244:355-359. 
  13. Nakamura S, Hashimoto Y, Mikami M, et al. Effect of the proteolytic enzyme serrapeptase in patients with chronic airway disease. Respirology 2003;8:316-320. 
  14. Mazzone A, Catalani M, Costanzo M, et al. Evaluation of Serratia peptidase in acute or chronic inflammation of otorhinolaryngology pathology: a multicentre, double-blind, randomized trial versus placebo. J Int Med Res 1990;18:379-388. 
  15. Longhi C, Scoarughi GL, Poggiali F, et al. Protease treatment affects both invasion ability and biofilm formation in Listeria monocytogenes. Microb Pathog. 2008;45(1):45-52.