No início do século XX, acreditava-se que os humanos precisavam apenas de quatro tipos de nutrientes: proteínas, carboidratos, gorduras e minerais. Hoje, sabemos que não é assim. Recentemente, cientistas descobriram que uma severa deficiência de certas vitaminas pode causar "doenças de deficiência". 

Doenças de deficiência conhecidas, mas raras:

  • O raquitismo, causado pela deficiência de vitamina D
  • A pelagra, causada pela deficiência de niacina
  • O escorbuto, causado pela deficiência de vitamina C
  • O beribéri, causado pela deficiência de vitamina B1 (tiamina)

Porém, quando essas doenças foram essencialmente eliminadas em muitas partes do mundo por meio da "fortificação alimentar" e da melhoria no suprimento de alimentos, assumiu-se que as deficiências de vitaminas deixaram de existir. Agora, descobrimos que a genética, a alimentação, doenças crônicas, o estilo de vida, a exposição a toxinas ambientais e outras coisas podem afetar as necessidades nutricionais de uma pessoa. De acordo com um relatório de 2006 da Organização Mundial da Saúde, de cada três pessoas ao redor do mundo, uma é deficiente em uma variedade de vitaminas e/ou minerais. Com frequência, a alimentação não basta para compensar essas insuficiências e pode-se recomendar o uso de suplementos.

 Vitaminas Hidrossolúveis x Vitaminas Lipossolúveis

As vitaminas são classificadas em duas categorias principais: hidrossolúveis e lipossolúveis. Vitaminas lipossolúveis precisam de gorduras na dieta para serem absorvidas. Estas vitaminas são armazenadas no fígado e no tecido adiposo do corpo e podem estar disponíveis para uso quando for necessário. As vitaminas hidrossolúveis, por outro lado, se dissolvem em água e não são armazenadas no corpo. 

Vitaminas hidrossolúveis – Elas se dissolvem facilmente em água e são absorvidas no trato intestinal. As vitaminas hidrossolúveis são raramente armazenadas no corpo. Por isso, se estiverem em excesso, serão excretadas do corpo pelos rins e pela urina.

 Vitamina B6 (Piridoxina)

A vitamina B6 está envolvida em mais de cem reações bioquímicas no corpo humano e desempenha um importante papel na saúde dos nervos e do cérebro em geral. Ela também é importante no metabolismo de moléculas de açúcares, colesterol e proteínas. Um estudo de 2008 revelou que "proporções significativas de alguns subgrupos populacionais" não têm níveis suficientes de vitamina B6. Frequentemente, há uma deficiência se a pessoa tiver níveis baixos de vitamina B12 e ácido fólico

Fatores de Risco para a Deficiência de Vitamina B6:

  • Consumo regular ou excessivo de álcool 
  • Obesidade ou sobrepeso
  • Gravidez
  • Problemas de malabsorção (síndrome do intestino permeável, doença celíaca, doença de Crohn, colite ulcerativa)
  • Idade mais avançada
  • Consumo de uma dieta vegetariana
  • Uso de certos medicamentos

Medicamentos como o antidiabético metformina e o diurético furosemida podem aumentar o risco de deficiência de vitamina B6. De acordo com estudos, mulheres que tomam ou já tomaram pílulas anticoncepcionais também estão em risco de deficiência de vitamina B6. Portanto, essas mulheres devem redobrar a atenção. 

A vitamina B6 é absorvida no jejuno, a parte central do intestino delgado. Ter uma boa saúde intestinal é importante para a absorção da B6 e de todas as vitaminas e minerais. 

Sintomas da Deficiência de Vitamina B6

  • Dermatite seborreica (Couro cabeludo ressecado)
  • Fadiga
  • Confusão
  • Dormência
  • Síndrome do túnel do carpo

Fontes Alimentares de Vitamina B6:

  • Carne suína
  • Carne e fígado bovinos
  • Peito de peru/frango
  • Salmão/atum
  • Grão-de-bico
  • Banana
  • Batata
  • Pistache

Recomenda-se que a maioria dos adultos consuma de 1 a 2 mg de vitamina B6 por dia, enquanto a maioria das crianças precisa de um valor entre 0,1 e 1,3 mg por dia, dependendo da idade. Porém, alguns acreditam que os níveis recomendados devam ser maiores. Não consuma além do recomendado no frasco de qualquer suplemento. O consumo além do recomendado pode causar sintomas de neuropatia em algumas pessoas. 

A vitamina B6 está disponível em um multivitamínico de qualidade ou em um suplemento de complexo B, além de um suplemento individual. 

Vitamina B12 (Cianocobalamina)

A vitamina B12 (também chamada de cobalamina ou cianocobalamina) é um importante nutriente de que seu corpo precisa para ajudar a otimizar a saúde do cérebro, dos nervos e do sangue. O mineral cobalto desempenha um importante papel em sua estrutura. A vitamina B12 é uma vitamina hidrossolúvel, o que significa que seu corpo a elimina quando não precisa dela. Não é possível ter uma superdosagem dessa vitamina. 

Estudos feitos nos EUA mostram que até uma em cada seis pessoas (17%) com 60 anos ou mais tem deficiência de vitamina B12, enquanto até uma em cada quinze pessoas (6%) com menos de 60 anos tem essa deficiência. Várias outras populações ao redor do mundo são igualmente afetadas. Na região norte da China, por exemplo, um estudo de 2014 mostrou que até 45% das mulheres chinesas tinham deficiência de vitamina B12. Populações da África, Rússia, Europa e Oriente Médio também têm altas taxas de deficiência. Pessoas com consumo reduzido de carne têm um risco maior de deficiência, bem como vegetarianos

Medicamentos como a metformina e a maioria dos redutores de ácidos (omeprazol, pantoprazol etc.) aumentam o risco de deficiência de vitamina B12, pois inibem sua absorção no intestino. O consumo regular de álcool é um fator de risco para essa deficiência e as pessoas que sofrem de alcoolismo estão mais suscetíveis.

Sinais e Sintomas da Deficiência de Vitamina B12

  • Anemia (megaloblástica)
  • Contagem anormal de plaquetas (pode ser baixa ou elevada)
  • Língua ardente (síndrome da boca ardente)
  • Depressão
  • Fadiga
  • Alucinações e confusão
  • Insônia
  • Homocisteína elevada (aumento do risco de ataque cardíaco, derrame e coágulos sanguíneos)
  • Perda de equilíbrio
  • Perda de memória (a deficiência de vitamina B12 é mais comum em pessoas com demência)
  • Zumbido no ouvido
  • Vitiligo (doença com a qual partes da pele têm hipopigmentação, ou seja, perdem a coloração) 

Também é possível que a pessoa sinta dormência e formigamento nas pernas e nos braços. Médicos chamam isso de neuropatia periférica. A neuropatia é comum em diabéticos, mas também pode afetar pessoas com pré-diabetes ou, às vezes, pessoas que não têm diabetes.

Fontes Alimentares de Vitamina B12

  • Carne bovina/frango/peru
  • Peixes
  • Ovos
  • Derivados do leite
  • Espirulina (uma alga verde-azulada)

Quando os níveis de vitamina B12 não são atingidos apenas pela alimentação, ela pode ser consumida na forma de um suplemento. Ela pode ser consumida como uma cápsula, comprimido, sublingual ou goma. Além disso, a vitamina B12 também é encontrada em uma vitamina do complexo B.

Folato (Vitamina B9) 

O folato é uma importante vitamina hidrossolúvel que é necessária para a divisão celular saudável e para o desenvolvimento adequado dos nervos. Ele é necessário para a produção adequada de DNA, RNA e aminoácidos. Uma forma comum dessa vitamina que é adicionada a vitaminas e alimentos é o ácido fólico. A palavra folato deriva de "folhagem", uma referência às verduras e aos legumes verdes, nos quais o folato é encontrado em abundância.

Nos Estados Unidos, até 20% das adolescentes do sexo feminino não obtêm quantidades adequadas de ácido fólico. Um estudo publicado em 2017 na Revista Europeia de Nutrição Clínica apontou que 85% das mulheres entre 16 e 49 anos no Reino Unido têm risco dessa deficiência. Homens e mulheres da Ásia, Europa, África e Oriente Médio também estão em risco.

Segundo um estudo publicado em 2018 na revista JAMA Psiquiatria, o consumo materno de ácido fólico pode reduzir o risco de autismo em bebês. Vitaminas pré-natais contêm folato e, quando consumidas, podem ajudar a evitar defeitos no tubo neural, lábio leporino e fenda palatina em bebês. De acordo com muitos profissionais de saúde, mulheres em idade reprodutiva devem consumir folato regularmente.

Fatores de Risco da Deficiência de Folato

  • Dieta pobre em vegetais
  • Certos medicamentos (com triantereno, metotrexato)
  • Consumo regular ou excessivo de álcool
  • Síndromes de malabsorção (síndrome do intestino permeável, doença celíaca, doença de Crohn, colite ulcerativa)
  • Medicamentos podem reduzir a absorção (redutores de ácido, metotrexato, anticonvulsivos)

Sintomas da Deficiência

  • Neuropatia e enfraquecimento dos nervos
  • Depressão
  • Anemia megaloblástica
  • Enfraquecimento dos nervos e perda de memória
  • Homocisteína elevada (aumento do risco de ataque cardíaco, derrame e coágulos sanguíneos)
  • Defeitos no tubo neural em bebês (se a mãe tiver deficiência durante a concepção e o início da gestação)
  • Aumento do risco de certos tipos de câncer (colorretal, de pulmão, pâncreas, esôfago, bexiga)

Fontes Alimentares de Folato

Se a alimentação não fornecer folato suficiente, deve-se considerar um suplemento de ácido fólico ou de folato. Isso é especialmente importante para mulheres em idade reprodutiva. Ele pode ser consumido como um suplemento individual, como parte de uma vitamina do complexo B ou como parte de um multivitamínico de qualidade ou de uma vitamina pré-natal. A dose mínima é de 400 mcg e raramente se recomenda uma dose superior a 1.000 mcg.

Vitamina C (Ácido Ascórbico)

A vitamina C, também conhecida como ácido ascórbico ou L-ascorbato, tem sido uma das vitaminas mais estudadas nas últimas cinco décadas. 

Uma busca na literatura científica revela que, desde 1968, foram realizados mais de 63 mil estudos sobre a vitamina C, quase 20 mil deles apenas na última década. Estudos médicos mostram que a vitamina C pode ajudar a promover a saúde geral do sistema imunológico, coração, sistema vascular e cérebro, além de vários outros benefícios. Níveis sanguíneos baixos de vitamina C estão associados a um risco maior de doenças cardiovasculares e morte. 

De acordo com um estudo publicado em 2009 na Revista Americana de Nutrição Clínica, mais de 7% das pessoas a partir dos 6 anos tinham deficiência de vitamina C quando seus níveis sanguíneos foram medidos. Mais da metade das pessoas avaliadas consumia baixas quantidades de alimentos ricos em vitamina C. 

Em minha carreira, diagnostiquei três pacientes dos EUA com escorbuto, uma doença que era tradicionalmente diagnosticada em marinheiros britânicos e comum entre piratas subnutridos, ambos os quais tinham acesso limitado a frutas frescas. Porém, acredita-se que, mesmo hoje em dia, o escorbuto seja mais comum do que se imagina e que deveríamos verificar os níveis sanguíneos de vitamina C das pessoas em risco e daquelas que têm uma dieta pobre. Usuários de tabaco têm níveis sanguíneos de vitamina C menores que os não fumantes. 

Sintomas da Deficiência de Vitamina C 

  • Dor nos ossos
  • Machucados
  • Depressão 
  • Fadiga
  • Dor nas articulações
  • Dores musculares
  • Inchaço

Fontes Alimentares de Vitamina C

  • Vegetais (pimentões, brócolis, couve, couve-de-bruxelas)
  • Frutas (mamão, laranja, melão cantaloupe, kiwi, morango)

Benefícios da Vitamina C à Saúde

  • Tratamento da anemia (aumenta a absorção de ferro quando consumidos juntos)
  • Promove a regeneração do colágeno e a saúde da pele em geral
  • Promove a saúde dos dentes e das gengivas
  • Promove a saúde cardíaca e vascular
  • Melhora a função endotelial (revestimento interno dos vasos sanguíneos)
  • Fornece suporte imunológico
  • Fornece suporte à memória
  • Ajuda a prevenir infecções do trato respiratório superior/resfriados
  • Pode ajudar no tratamento da sepse (infecção no sangue)

A quantidade mínima de vitamina C necessária para prevenir o escorbuto é de cerca de 60 mg por dia, valor que pode ser atingido pelo consumo de alimentos ricos em ácido ascórbico. Pessoas que tomam suplemento estarão consumindo entre 250 e 1.000 mg por dia. A vitamina C está disponível na forma de pós, cápsulas, comprimidos e gomas. 

Referências:

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