O que é a bromelina?

O termo bromelina se refere a um grupo de enzimas contendo enxofre obtidas a partir do abacaxi. Os suplementos de bromelina são produzidos a partir do tronco da planta do abacaxi, o que os difere da bromelina derivada da fruta.1 

As pesquisas e benefícios disponíveis sobre a bromelina referem-se quase que exclusivamente a aquela derivada do tronco, criada como suplemento alimentar em 1957. Desde então, mais de 300 artigos científicos foram publicados sobre seus efeitos benéficos na literatura médica.

Para que Serve a Bromelina?

Apesar de a bromelina poder ser um bom auxílio digestivo, ela é utilizada principalmente para ajudar a promover a recuperação de machucados, torções, distensões, artrite, cirurgias e outros traumas físicos. A bromelina também é útil para auxiliar a recuperação do corpo após uma inflamação, e esse é um efeito bem documentado em vários modelos experimentais e estudos clínicos.2 

bromelina funciona principalmente através do estímulo da produção de plasmina, um composto que bloqueia a formação de compostos pró-inflamatórios e que degrada a fibrina — uma substância que promove o inchaço, a inflamação e a formação de cicatrizes.3 Também foi demonstrado que, através de outro mecanismo, a bromelina pode reduzir a produção de compostos conhecidos como cininas.4 Esses compostos causam muita inflamação, inchaço e dor após lesões traumáticas (como lesões esportivas).

A Bromelina e as Lesões Esportivas

Estudos clínicos demonstraram que a bromelina é efetiva em uma variedade de lesões ligadas a esportes. Um dos estudos mais animadores foi realizado em 1960, envolvendo boxeadores.5 O grupo que recebeu a bromelina apresentou um desaparecimento mais rápido de suas lesões faciais. Cinquenta e oito dos setenta e quatro boxeadores que receberam a bromelina relataram que todos os sinais de ferimentos sumiram completamente em quatro dias. Dos dezesseis restantes, o desaparecimento completo levou de 8 a 10 dias. Por outro lado, do grupo de controle de setenta e dois boxeadores, apenas dez tiveram ferimentos que sumiram completamente ao fim de 4 dias, enquanto o restante levou de 7 a 14 dias.

A Bromelina e a Recuperação de Cirurgias

A capacidade da bromelina de reduzir inchaços, ferimentos, tempo de recuperação e dor após procedimentos cirúrgicos foi demonstrada em vários estudos clínicos. Foi demonstrado que a bromelina é particularmente útil na recuperação de cirurgias odontológicas, como remoção do dente siso.6 No estudo mais recente, a bromelina foi comparada com um tratamento medicamentoso convencional (aceclofenaco) após a remoção de um siso afetado.7 As variáveis principais da recuperação eram dor, inchaço e trismo (limitação de abertura bucal), avaliadas nos dias 2 e 7 do pós-operatório. A bromelina teve um desempenho superior ao do aceclofenaco na redução da severidade do inchaço e do trismo, além de promover alívio da dor. Os pesquisadores concluíram que "o presente estudo demonstrou que a eficácia da bromelina foi comparável à do aceclofenaco na redução das complicações inflamatórias após a remoção cirúrgica dos terceiros molares mandibulares afetados".

A Bromelina e a Saúde das Articulações

A bromelina exerce vários efeitos benéficos no suporte à saúde das articulações, principalmente no que diz respeito à osteoartrite (OA), um distúrbio das articulações causado pela degeneração da cartilagem e de outros compostos das articulações. A bromelina ajuda a promover a saúde das articulações, protegendo a saúde da cartilagem através da redução do estresse oxidativo e da expressão genética de compostos que ativam a inflamação e a dor.8 Estudos clínicos sobre a bromelina e outras enzimas proteolíticas demonstraram melhora na função das articulações e na amplitude de movimentos, além de uma redução no desconforto.9

A Bromelina e o Trato Respiratório 

A bromelina exerce vários efeitos que beneficiam a saúde do trato respiratório. Por exemplo, ela reduz a viscosidade (espessura e aderência) das secreções do trato respiratório. Isso ajuda a melhorar a capacidade e a função pulmonar, além de suprimir tosses e irritação dos brônquios. Ela também ajuda em casos de congestão nasal e sinusal.10-12

A Bromelina e a Função Imunológica

bromelina exerce efeitos bastante complexos no sistema imunológico.2 Enquanto um sistema imunológico superestimulado pode causar inflamações e danos, uma baixa atividade imunológica pode aumentar o risco de infecções. 

O efeito da bromelina na função imunológica está ligado ao seu impacto direto nos glóbulos brancos. Ainda assim, níveis de controle mais profundos sobre os caminhos de sinalização molecular e expressão genética envolvidos na reação imunológica são, provavelmente, mais importantes em seus efeitos regulatórios. A bromelina promove o funcionamento adequado do sistema imunológico e preserva sua homeostase (equilíbrio). Dependendo do ambiente da célula e do estado geral de seu funcionamento, a bromelina pode tanto aumentar quanto diminuir a atividade/expressão das mesmas moléculas envolvidas na reação imunológica. 

Um dos efeitos da bromelina que ajudam a combater um sistema imunológico hiperativo é a redução da migração de glóbulos brancos (GBs) para as áreas de inflamação. Adicionar mais GBs a uma área inflamada é como jogar gasolina em um incêndio. A bromelina ajuda a prevenir a piora da inflamação e do inchaço na área.13

Em termos de ativação da capacidade do sistema imunológico de combater infecções, a bromelina aumenta a função dos GBs diretamente, e os "direciona" a reagirem a moléculas sinalizadoras, como o interferon — o composto antiviral natural do corpo.14,15 A bromelina melhora tanto o sistema imunológico inato (não específico) quanto o adaptativo (específico), além da função dos glóbulos brancos. 

A Bromelina, as Varizes e a Inflamação de Veias

Foi demonstrado que a bromelina pode exercer um efeito favorável quando uma veia está inflamada. Especificamente, foi demonstrado que a bromelina pode reduzir o desconforto, o inchaço, a vermelhidão, a rigidez, o aumento na temperatura da pele e a incapacidade quando usada em doses de 500 a 750 mg por dia. 

A bromelina também pode ajudar a melhorar a aparência de varizes. Pessoas com varizes apresentam uma capacidade reduzida de degradar a fibrina, uma proteína semelhante a cicatrizes. Quando a fibrina é depositada no tecido próximo às varizes, a pele fica rígida e rugosa. Nesse caso, a bromelina é útil porque as paredes das veias são uma fonte essencial de ativador de plasminogênio, o que promove a degradação da fibrina. A bromelina atua de forma semelhante ao ativador de plasminogênio, causando a degradação da fibrina.16 Assim, a bromelina pode ajudar a prevenir o desenvolvimento da pele rígida e rugosa encontrada ao redor das varizes.

Formas Disponíveis de Bromelina

A bromelina está disponível primariamente nas formas de comprimidos e cápsulas. A atividade da bromelina é expressada em uma variedade de unidades enzimáticas. O Food Chemistry Codex (FCC) reconhece oficialmente o uso de unidades de coagulação do leite (MCU). As unidades de digestão de gelatina (GDU) são outro tipo de unidade aceitável e de valor numérico igual às unidades de coagulação do leite.

Diferentes graus de bromelina estão disponíveis com base no MCU ou no GDU. A variação recomendada de MCU ou GDU é de 1.200 a 1.800, e a dosagem é de 250 a 750 mg por dia.

Quando usada como um auxílio digestivo, a bromelina deve ser tomada logo antes de uma refeição (não mais que trinta minutos antes de comer). Quando usada para efeitos sistemáticos, a bromelina deve ser tomada entre refeições e de estômago vazio (cerca de 1-1/2 horas antes ou depois de uma refeição). A potência da preparação determinará a dosagem.

Efeitos colaterais

Se você for alérgico(a) a abacaxi, não utilize a bromelina. 

No geral, a bromelina é muito bem tolerada. A bromelina é praticamente atóxica. Estudos em animais demonstram que dosagens de até 10 gramas por quilograma de peso corporal não são associadas a qualquer morte.

O cobre e o ferro desativam a bromelina, enquanto o magnésio e a cisteína (um aminoácido que contém enxofre) a ativam. Se estiver usando a bromelina com qualquer intuito que não seja o de um auxílio digestivo, é recomendado que ela não seja tomada quando acompanhada de alimentos.

Referências:

  1. Rowan AD, Buttle DJ, Barrett AJ. The cysteine proteinases of the pineapple plant. Biochem J 1990;266:869-875.
  2. Hikisz P, Bernasinska-Slomczewska J. Beneficial Properties of Bromelain. Nutrients. 2021;13(12):4313. 
  3. Azarkan M, González MM, Esposito RC, Errasti ME. Stem Bromelain Proteolytic Machinery: Study of the Effects of its Components on Fibrin (ogen) and Blood Coagulation. Protein Pept Lett. 2020;27(11):1159-1170.
  4. Lotz-Winter H. On the pharmacology of bromelain: an update with special regard to animal studies on dose-dependent effects. Planta Med. 1990;56(3):249-253.
  5. Blonstein JL. Control of swelling in boxing injuries. Practitioner 1969;203:206
  6. de Souza GM, Fernandes IA, Dos Santos CRR, Falci SGM. Is bromelain effective in controlling the inflammatory parameters of pain, edema, and trismus after lower third molar surgery? A systematic review and meta-analysis. Phytother Res. 2019;33:473–481.
  7. Gupta AA, Kambala R, Bhola N, Jadhav A. Comparative efficacy of bromelain and aceclofenac in limiting postoperative inflammatory sequelae in surgical removal of lower impacted third molar: a randomized controlled, triple-blind clinical trial. J Dent Anesth Pain Med. 2022;22(1):29-37.
  8. Pothacharoen P, Chaiwongsa R, Chanmee T, et al. Bromelain Extract Exerts Antiarthritic Effects via Chondroprotection and the Suppression of TNF-α-Induced NF-κB and MAPK Signaling. Plants (Basel). 2021;10(11):2273.
  9. Walker AF, Bundy R, Hicks SM, Middleton RW. Bromelain reduces mild acute knee pain and improves well-being in a dose-dependent fashion in an open study of otherwise healthy adults. Phytomedicine. 2002;9:681–686.
  10. Rimoldi R, Ginsu F, Giura R. The use of bromelain in pneumological therapy. Drugs Exp Clin Res 1978;4:55-66.
  11. Ryan RE. A double-blind clinical evaluation of bromelains in the treatment of acute sinusitis. Headache 1967;7:13-17.
  12. Braun JM, Schneider B, Beuth HJ. Therapeutic use, efficiency and safety of the proteolytic pineapple enzyme Bromelain-POS in children with acute sinusitis in Germany. In Vivo 2005;19:417-421.
  13. Fitzhugh DJ, Shan S, Dewhirst MW, Hale LP. Bromelain treatment decreases neutrophil migration to sites of inflammation. Clin Immunol. 2008;128:66–74.
  14. Zavadova E, Desser L, Mohr T. Stimulation of reactive oxygen reactive species production and cytotoxicity in human neutrophils in vitro and after oral administration of a polyenzyme preparation. Cancer Biother 1995;10:147-152.
  15. Hale LP, Haynes BF. Bromelain treatment of human T cells removes CD44, CD45RA, E2/MIC2, CD6, CD7, CD8, and Leu 8/LAM1 surface molecules and markedly enhances CD2-mediated T cell activation. J Immunol 1992;149:3809-3816.
  16. Ako H, Cheung AH, Matsuura PK. Isolation of a fibrinolysis enzyme activator from commercial bromelain. Arch Int Pharmacodyn Ther 1981;254:157–167.