A vitamina B3 pode ser encontrada em duas formas diferentes – a primeira é a niacina (também conhecida como ácido nicotínico), e a segunda é a niacinamida (também conhecida como nicotinamida). Em qualquer uma das formas, a vitamina B3 é um precursor do dinucleotídeo de nicotinamida e adenina (NAD), que tem um papel vital no auxílio às mitocôndrias – a fonte de energia das células – para criar energia.

Quando há níveis adequados do aminoácido triptofano (que também é necessário para criar o composto regulador do humor serotonina), a niacina pode ser fabricada pelo corpo. Ela também é hidrossolúvel, então, em caso de excesso de vitamina, ela simplesmente é excretada pela urina. O corpo não só usa a niacina para fazer NAD, conforme mencionado, como também para fazer ácido nicotínico, nicotinamida e ribosídeo de nicotinamida, moléculas relacionadas que têm um papel importante na saúde e no bem-estar geral.  

Deficiência de niacina

Pergunte a qualquer médico ou aluno de medicina sobre os sintomas da deficiência de niacina (vitamina B3), e ele lhe dirá a definição clássica da pelagra, um termo italiano que significa “pele seca”, usado para definir a deficiência de niacina. Os sintomas da pelagra também incluem diarreia, demência e pele seca.

Porém, se você perguntar a um médico se ele já diagnosticou esse problema, a resposta quase sempre será “não”. Apesar da pele seca e da demência serem extremamente comuns em pessoas com mais de 65 anos de idade, e da diarreia também ocorrer frequentemente em idosos, testes de laboratório para pelagra raramente são feitos por profissionais de saúde – até mesmo em pacientes com um estado nutricional pobre. É importante que médicos tomem um bom histórico da dieta dos pacientes com esses sintomas, para ajudar a garantir que sua dieta seja rica em alimentos que contenham niacina.

A pelagra é mais comumente diagnosticada em populações refugiadas na Ásia e na África, com relatos de quase 2 milhões de casos desde meados de 1990. A Ingestão Diária Recomendada (IDR) de niacina para prevenir a pelagra em adultos é de 11 mg/dia, e uma quantidade maior pode ser necessária no caso do tratamento de sinais e sintomas específicos da deficiência de niacina, que podem incluir:

  • Perda de memória
  • Dor de cabeça
  • Fadiga
  • Depressão
  • Apatia
  • Delírio
  • Vômito

Fontes alimentares de niacina

  • Atum amarelo
  • Peito de frango
  • Peru
  • Porco
  • Carne de boi alimentado com grama
  • Cogumelos Portobello
  • Arroz integral
  • Amendoim
  • Abacate
  • Lentilha
  • Batata doce

Metabolismo

A niacina é envolvida como um cofator de mais de 400 reações bioquímicas no corpo, auxiliando primariamente com o metabolismo da energia, promovendo a conversão de alimentos em energia e a reparação do DNA, a molécula que carrega nossa informação genética única.

Sem a quantidade adequada de niacina, nós não seríamos capazes de quebrar carboidratos, proteínas ou gorduras. A niacina é convertida em NAD pelo corpo, a molécula ativa que tem um papel importante para ajudar o corpo humano a funcionar da forma correta.

Saúde cerebral

O mal de Alzheimer é um problema mental que geralmente afeta idosos. O problema, que foi nomeado em homenagem ao Dr. Aloysium “Alois” Alzheimer, um psiquiatra alemão que, em 1906, diagnosticou a demência em uma mulher que havia morrido de “uma estranha doença mental”. O mal de Alzheimer não tem uma cura específica, e pode causar uma enorme frustração e desafios tanto para os pacientes quanto para os cuidadores.

Os sintomas incluem o esquecimento de nomes e a confusão nos primeiros estágios, enquanto os estágios mais avançados podem dar espaço a problemas mais severos, como paranoia e comportamento abusivo. Menos de um por cento dos casos de mal de Alzheimer ocorrem antes dos 65 anos de idade, mas cientistas preveem que, depois dos 65, uma a cada 9 pessoas está em risco. Prevenir o mal de Alzheimer é de importância crítica.

Um estudo de 2004 demonstrou que um consumo adequado de niacina pode ajudar a proteger contra o desenvolvimento do mal de Alzheimer.  Espera-se que o número de pessoas afetadas pelo mal de Alzheimer triplique no mundo todo até 2050.

Saúde cerebral

Doenças cardíacas são a maior causa de mortes nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Infelizmente, à medida que mais pessoas ao redor do mundo adotam um estilo de vida ocidental em detrimento de suas dietas ancestrais, as doenças cardíacas continuam a progredir. Só nos Estados Unidos, as mortes causadas por doenças cardiovasculares matam cerca de 1 milhão de pessoas por ano desnecessariamente. No mundo todo, mais de 10 milhões morrem de doenças vasculares todos os anos. A hipertensão é um dos principais fatores de risco para doenças cardíacas – mais de 1 bilhão das 7,6 bilhões de pessoas do mundo têm esse problema.

Consumir uma dieta saudável para o coração, participar de exercícios rotineiramente e evitar fumar são as três principais ações que podem ser tomadas para evitar as doenças cardíacas – de fato, esses fatores são mais importantes do que qualquer medicamento já criado. Tomar niacina é outra forma natural de ajudar reduzir o risco de doenças cardíacas. Um estudo de 1986, envolvendo quase 9.000 pessoas, demonstrou que aquelas que tomavam niacina tinham 11 por cento a menos de chance de morrer de doenças cardíacas, quando comparadas a pessoas que não tomavam.

Um estudo de 2013, publicado no Journal of the American College of Cardiology, com quase 10.000 pacientes, demonstrou que aqueles que tomaram niacina tinham 34 por cento a menos de chance de terem um evento cardiovascular, e 25 por cento a menos de chance de terem um ataque cardíaco. Também houve uma redução de 12 por cento em derrames, porém o número não foi clinicamente significativo.

Um estudo de 2017 demonstrou que a niacina, quando adicionada a uma estatina redutora de colesterol, ajuda a reduzir o Lp-PLA2, um teste que prevê o risco de se ter um ataque cardíaco. Além disso, um estudo de 2010 demonstrou que o uso de niacina reduz a inflamação das artérias. Essa inflamação, quando presente, aumenta o risco de ataques cardíacos e derrames.

Melhora do perfil de colesterol

Um estudo do ano 2000, publicado no JAMA, demonstrou que a niacina pode ajudar a aumentar o colesterol HDL (bom) e reduzir os triglicerídeos. Os autores concluíram que a niacina é uma alternativa segura para o controle do colesterol em diabéticos que são incapazes de tolerar estatinas controladoras do colesterol. É importante notar que apenas a vitamina B3 na forma de niacina ajudará com os níveis de colesterol. Porém, essa também é a forma que causa a vermelhidão da niacina, um efeito colateral inofensivo, porém desconfortável, que causa vermelhidão e coceira. A Mayo Clinic considera a niacina uma alternativa segura para reduzir o colesterol ruim e aumentar o colesterol HDL em pessoas que não podem tomar uma estatina, como atorvastatina (Lipitor) ou sinvastatina (Simvastatin).

Proteção contra o câncer de pele

Os cânceres de pele de células basais e escamosas são duas das formas mais comuns da doença.  Felizmente, eles não apresentam risco à vida, o que ocorre com o perigoso melanoma.

O protetor solar é frequentemente usado para ajudar a evitar queimaduras solares, e muitas pessoas, incluindo dermatologistas, supõem que isso evita o câncer de pele. Porém, estudos recentes indicam o contrário. Um estudo de 2018, publicado no European Journal of Dermatology, relatou uma meta-análise, que analisou 29 estudos que incluíram mais de 313.000 pessoas, e concluiu que o uso regular de protetor solar não protege contra o câncer de pele.

É importante notar que o protetor solar protege contra queimaduras solares, que podem ser dolorosas. Além disso, uma dieta rica em antioxidantes é importante na prevenção de todos os tipos de câncer, incluindo os de pele.

A niacina na forma de nicotinamida parece também ter um papel na proteção contra as manchas indicadoras e precursoras do câncer de pele. Em um estudo de 2015, publicado no New England Journal of Medicine, com 389 pacientes com histórico de câncer de pele, metade das pessoas recebeu 500 mg de nicotinamida duas vezes por dia, enquanto a outra metade recebeu um placebo. Depois de 12 meses, as pessoas que tomaram a nicotinamida apresentavam uma chance 23 por cento menor de serem diagnosticadas com câncer de pele, e 11 por cento menor de terem ceratose actínica, um problema precursor do câncer de pele.

Um estudo de 2017 também demonstrou que o consumo regular de vitamina B3 reduziu o risco de se desenvolver ceratose actínica, um precursor do câncer de pele, enquanto um estudo de 2010 também suportou o benefício da vitamina B3 na proteção da pele.

Dose sugerida: A nicotinamida é a versão da niacina “sem vermelhidão”. Tome conforme indicado no rótulo. Também está disponível a niacinamida tópica.

Proteção contra o câncer de boca

O câncer de boca tem se tornado cada vez mais comum nas últimas décadas. Exames dentários rotineiros são cruciais para a detecção precoce, e a niacina pode ajudar na prevenção. Um estudo do ano 2000 relatou que um consumo elevado de niacina reduziu o risco de câncer de boca em 38 por cento. Outro estudo de 2000 também indicou que pessoas com níveis de niacina no sangue mais altos apresentavam uma chance 50 por cento menor de desenvolverem câncer de boca, quando comparados a pessoas com níveis mais baixos.

Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença mental em que a pessoa afetada tem um padrão de pensamento afetado A pessoa pode ter paranoia, alucinações auditivas e/o visuais ou um medo anormal. Frequentemente, a pessoa afetada tem problemas para distinguir o que é real e o que não é. As pessoas com esquizofrenia devem receber o cuidado de um psiquiatra.

Por volta do ano 1962, o Dr. Abram Hoffer relatou casos de sucesso com o uso de altas doses de niacina em pessoas esquizofrênicas, em Lancet. Porém, um estudo de 1973, que utilizou até 3.000 mg de niacina por dia, não viu nenhum benefício. Curiosamente, estudos demonstraram que as pessoas esquizofrênicas que têm mais probabilidade de ter uma reação de vermelhidão na pele causada pela niacina também apresentam um maior risco de psicose, quando comparadas a pessoas que não têm a reação. Isso parece estar relacionado a ácidos graxos essenciais nas membranas celulares. Um estudo de 2015 explicou o mecanismo pelo qual a niacina pode ser benéfica. Mais estudos são necessários antes que ela possa ser recomendada em grande escala.

Interações medicamentosas

De acordo com o WebMD, a niacina pode interagir com as seguintes substâncias, então é importante consultar o seu médico antes de tomar a niacina, caso você consuma algum dos seguintes compostos:

  • Álcool – a vermelhidão causada pela niacina pode ser pior em pessoas que bebem álcool e consomem niacina
  • Alopurinol – esse medicamento trata a gota, e pode se tornar menos efetivo em pessoas que usam a niacina
  • Carbamazepina – esse medicamento é indicado para convulsões, e seus níveis podem aumentar em pessoas que tomam niacina.
  • Quimioterapia – alguns tratamentos podem levar à deficiência de niacina
  • Clonidina – A combinação de clonidina e niacina em excesso reduz a pressão sanguínea
  • Probenecida – esse medicamento trata a gota e, quando tomado com a niacina, pode se tornar menos efetivo
  • Adesivo de nicotina – o uso em conjunto com a niacina pode aumentar o efeito colateral da vermelhidão

Dose sugerida:

Considere iniciar com 100 mg uma ou duas vezes por dia. Depois de algumas semanas, muitas pessoas aumentam a dose para 250 ou 500 mg duas vezes por dia. Caso não ocorra a vermelhidão ou algum outro efeito colateral, pode-se tomar até 1.000 mg duas vezes por dia para um benefício máximo. Consulte seu médico antes de começar a tomar, caso você esteja tomando medicamentos prescritos ou possua diabetes.

Toxicidade

Existe o risco de vermelhidão em altas doses, e o possível risco de toxicidade para o fígado quando a substância é tomada em doses mais altas do que o recomendado no rótulo. Esses efeitos costumam ocorrer quando doses de 2.000 mg a 6.000 mg são tomadas diariamente. Também há o leve risco de que a niacina pode aumentar a pressão sanguínea em pessoas com diabetes.

Existe uma leve evidência de que a versão de liberação estendida da niacina pode ser mais problemática quando tomada em altas doses. Eu descobri um estudo de caso de 2014, de um indivíduo com 17 anos de idade na reabilitação do alcoolismo, que tomava altas doses de niacina em uma tentativa de esconder as evidências do uso de drogas ilícitas (apesar de não haver evidências sólidas de qualquer benefício). Ele desenvolveu uma falha hepática aguda que, segundo suspeitam pesquisadores, ocorreu devido à niacina, mas eu suspeito que o álcool e as drogas também tenham tido um papel importante. Minha recomendação é: tome a niacina conforme indicado no rótulo.

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